tag:blogger.com,1999:blog-78671272558264673502024-02-20T07:48:24.254-08:00Barbara Massot"Uma imagem nunca está só. O que conta é a relação entre imagens." Gilles DeleuzeUnknownnoreply@blogger.comBlogger6125tag:blogger.com,1999:blog-7867127255826467350.post-72213994770262167292020-06-07T05:49:00.002-07:002020-07-10T04:13:53.192-07:00Infiltrado na Klan (Spike Lee)<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Infiltrado na Klan - Spike Lee</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 141.6pt; text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">(<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Blackkklansman,
2018)<o:p></o:p></i></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<div style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">O filme tem pouco mais de duas
horas de duração, mas pouco se percebe este tempo passar uma vez que o filme é
embalado em músicas cheias de <i>groove</i>,
com uma plasticidade visual primorosa por conta da fotografia bem desenhada
entre espaços de sombra e espaços de luz, uma montagem bem fluida e, além disso, conta com uma direção de arte
requintada que nos remete ao clima dos anos 70.<span style="color: windowtext;"> “Infiltrado
na Klan” é imperdível. Não sei se por
causa da primorosa parte técnica ou pela sutil forma de nos dar um soco no
estômago. Ou se as duas coisas juntas. Destaque para a trilha musical composta
pelo trompetista Terence Blanchard. Que desde 1991 deu o climão sonoro em 17
filmes dirigidos por Spike Lee. Nesse filme, Blanchard consegue amenizar
tensões e intensificar ações. A sintonia do filme é mesmo em torno dessa
condição de mesclar gêneros e ritmos. Por alguns é categorizado como comédia,
por outros como drama ou até mesmo como filme policial. E isso é genial. Pois
para que isso aconteça é preciso que cada departamento funcione em cooperação
com o outro, além de um profundo conhecimento da técnica cinematográfica por
parte da equipe para reconfigurar as combinações dos elementos fílmicos com tal
maestria. Lee estudou cinema na Universidade de Nova Iorque e chegou a ser
aluno de Martin Scorcese. Agora leciona na instituição onde se formou. Além de
cursar cinema na Tisch (escola de artes da NYU) também cursou artes na
Morehouse College, em Atlanta. Seus estudos foram pagos pela sua avó, filha de
escrava. Além disso, ela que financiou parte de seu primeiro filme, “Ela quer
tudo” de 1986. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: windowtext; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Estamos
em tempos sombrios, em que a extrema-direita se realinha em diversos países,
fingindo querer participar do jogo democrático. “Infiltrado na Klan” parece ser
uma pequena brecha nos muros que o discurso de ódio tem construído. O cineasta
estadunidense assume em seus filmes a pretensão de trazer para os grandes
estúdios da indústria hollywoodiana um pouco de pele preta em destaque. Os
problemas da segregação social e da discriminação racial para Spike Lee seriam
mais uma questão de raça do que de classe. Revela bem a sua formação como
estudante de artes liberais em Atlanta. Com efeito, o produtor do filme Jordan
Peele (ao comprar os direitos do livro que inspirou o filme) acertou ao
convidar Spike Lee para destilar sua potência cinematográfica em um tema pelo
qual sempre se expressa: a questão racial nos Estados Unidos. Em geral, ocupando
as telas luminosas com questões sociais e questionando a pontaria dos discursos
de ódio, é quando toca o dedo na funda ferida racial estadunidense – e esfrega
com álcool – que o cineasta afro-americano consegue nos fazer angustiados e até
constrangidos por algumas figuras que ainda perduram em pleno século XXI. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: windowtext; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Mais
uma vez Spike Lee revisita o muito bizarro “Nascimento de uma Nação” de 1915. Já
o tinha feito na década de 1980, em um curta-metragem. Devemos reforçar Para
quem não conhece, que na obra de 1915 o cineasta estadunidense David W.
Griffith faz uma adaptação do livro <i>The
Clansman</i>, escrito por Thomas Dickson, cuja apresentação heróica da
organização Ku Klux Klan atordoa. Com quase três horas de duração, usando
técnicas de montagem e enquadramento até então pouco exploradas no cinema,
Griffith criou uma obra audiovisual icônica. Seja pela sua inovação técnica ao
abrir caminho para todo um vocabulário que constitui a linguagem
cinematográfica ou pelo conteúdo racista do filme que se passa durante o fim
Guerra de Secessão no EUA, em 1865. Neste momento histórico, teve fim a guerra
entre os estados do Norte – que queriam acabar com a escravidão – e os estados
do Sul – que queriam mantê-la. O que o roteiro de Griffith e Dixon constrói é o
caráter salvador da KKK. O conflito principal se dá quando uma mulher branca do
Sul é estuprada e morta por um homem negro. Os cavaleiros da organização de
supremacistas brancos são retratados como heróis. O encapuzados brancos
restauram a paz e expulsam a causa da guerra, a causa da desunião, da
segregação: os negros africanos. As implicações sociais e políticas desta
ficção não são muito discutidas. O século XIX parece ainda estar entre nós.
Dizem que o lançamento do filme inflamou o retorno da Ku Klux Klan no início do
século XX e, inclusive, o linchamento em praça pública de Jesse Washington em
1916. Este acontecimento também está em “Infiltrado na Klan”, narrado pelo
militante Harry Belafonte. Jesse, agricultor negro de 17 anos, fora condenado
pelo estupro e assassinato de uma mulher branca. Belafonte narra os vários
detalhes do linchamento e ainda nos dá a ver o desfecho em fotos. As imagens foram
feitas por um repórter da época no momento da morte do jovem negro e ainda por
cima foram vendidas como cartão postal na época. Mais de 10.000 pessoas
presenciaram a isto em tom de comemoração sem ser reprimidos pela policia, que
também estava lá. Este é mais um dos fatos reais no filme que parece não ser. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: windowtext; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">O
genocídio de pretos e pretas ainda é negado por figuras como o ex-líder da Ku
Klux Klan David Duke (que é interpretado no filme por Topher Grace) e pelo
próprio presidente dos Estados Unidos a quem Lee só chama de Agente Laranja. Jamais
fala em voz alta o nome de Trump. O slogan da política “América Primeiro” (<i>America First</i>) ecoa e se mostra atual na
voz de Donald Trump. O presidente, por sua vez, aparece no final do filme, em
uma declaração tendenciosa acerca do ocorrido em Charlottesville quando, um
motorista atropelou manifestantes do movimento antirracismo <i>Black Lives Matter</i> (em tradução livre,
“Vidas Negras Importam”). O condutor do veículo, um supremacista branco, estava
em uma manifestação da extrema-direita nacionalista <i>Unite the Right</i> (Unir a direita), que acontecia também naquele dia.
Era 2017 e deu tempo de Lee incluir na montagem do filme cenas que documentaram
este crime. Uma mulher morreu e dezenas de pessoas ficaram feridas. Este é um
dos socos no estômago que a obra nos dá, garantindo que ninguém esteja sorrindo
ao final do filme. Mas o roteiro escrito a oito mãos ganha estrutura e contexto
ao nos lançar a uma reflexão: afinal poderíamos conectar crimes de ódio dos
anos de 1865, 1915, 1916, 1939, 1970, 2017, 2018 e 2019?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: windowtext; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">São
muitos os alvos de “Infiltrado na Klan”, mas um dos momentos mais consistentes
e assertivos do longa alerta para o fato da segregação racial não estar somente
na sociedade civil ou nas mãos de justiceiros segregacionistas, mas nas
instituições, no <i>maisntream</i>. Acontece
em um diálogo entre Ron Stallworth (o policial negro infiltrado na KKK é
interpretado pelo filho de Denzel Washington, John David Washington) e o
Sargento da polícia, com uma fotografia bem cheia de sombras recortando e
marcando o espaço, deixando poucos fachos de luz, o texto que culmina na famosa
expressão <i>“Wake up!” </i>(Acorde!). Esta
fala está presente em alguns filmes de Lee. Na cena citada, o Sargento diz
conhecer pessoas simpatizantes da KKK que estão abandonando a violência e
ocupando cargos institucionais, e distribuindo o seu ódio por meio do controle
de medidas para ações afirmativas, imigração, crime e reforma tributária. Não
basta ser justiceiro e terrorista, deve-se garantir a atuação nas instituições
parlamentares e fazer leis e esquemas burocráticos que garantam a segregação. Penso
que esta cena conecta não só as datas acima, mas também colabora para a
sensação de que este filme extrapola os limites da tela. O roteiro brinca com
isso a todo o momento. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: windowtext; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">A
experiência de assistir a um filme fica bem mais instigante e rica quando esta
obra consegue costurar o roteiro com o fio da História. Quem pode pensar que
seria possível um policial negro se infiltrar na Ku Klux Klan? No final da
década de 70, um jovem de vinte e poucos anos se torna o primeiro policial
negro da cidade de Colorado Springs, no Colorado. Talvez isso já rendesse um
filme ou livro. Mas o que se sucede na vida de Ron stallwoth nos faz achar que seria
tudo a mais pura invenção de um roteiro muito criativo: o jovem policial negro
– que atuava até então disfarçado em investigações – se infiltra na milícia
estadunidense de supremacistas brancos, conhecida historicamente como Ku Klux
Klan. Ron Stallworth tem até hoje a sua carteira de membro efetivo da Ku Klux
Klan no ano de 1979, e em 2014 relatou estas memórias no livro “Infiltrado na
Klan”. Em 2018 é lançada a adaptação cinematográfica deste livro dirigida por
Spike Lee. No livro <i>Blackkklansman </i>(Infiltrado
na Klan), algumas das memórias de Ron Stallworth, beiram o inacreditável, se
não tivessem acontecido mesmo. O detetive manteve a operação por quase uma ano
até receber a ordem de não mais dar continuidade. Durante este tempo, enquanto
Ron falava ao telefone e se correspondia por cartas com a organização, seu
parceiro – que era branco, no filme interpretado por Adam Driver – ia às
reuniões e encontros. Ninguém nunca desmascarou os infiltrados. Com isso, eles
conseguiram evitar que cruzes fossem incendiadas e inclusive um ataque à bomba
em dois bares LGBTQI. Ainda que o roteiro invente situações para estruturar o
filme de acordo com princípios básicos da narrativa hollywoodiana, o faz sem
descaracterizar a essência do que foi esta experiência para Ron. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Assim sendo, é importante
reassaltar que não se trata de aderirmos a uma abordagem que tenha a pretensão
de ser real e cobrir os fatos históricos em sua verdade. Talvez uma das
situações divertidas no cinema seja este jogo estabelecido entre o caráter
documental da ficção e o caráter ficcional do que se documenta como real. De
quebra, um dos efeitos colaterais deste jogo é deixarmos de acreditar que
existe a verdade como uma coisa única. Todavia, ao nos lançarmos pra este jogo
entre real e ficção, nos damos conta de que a ficção está encharcada de
realidade na medida em que o pessoal e impessoal se encontram. Quando o que é
íntimo reverbera no que é público e vice-versa. Os <i>spoilers</i> e revelações da história desse texto não estão contidas no
enquadramento da câmera, assim como não aparecem dentro das margens
estabelecidas da tela luminosa. Estão na nossa memória. O filme nos aponta pra
isso, na medida em relaciona fatos passados com fatos atuais nos fazendo
perceber e escolher o lugar que queremos ocupar nestas histórias. </span></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="text-indent: 35.4pt;">A supremacia branca expande o
preconceito racial, destilando o seu ódio em cima de negros, mas também de gays,
mulheres, judeus e imigrantes. Raça, gênero, classe e origem étnica são faces
de uma mesma moeda. A filósofa estadunidense Angela Davis nos lembra que, na
atualidade dos EUA, a luta negra serve como um emblema da luta pela
liberdade.</span><span style="text-indent: 35.4pt;"> </span><span style="text-indent: 35.4pt;">Talvez o que chamem de
político, militante ou ativista em um filme como este seja justamente o fato de
que a obra de Spike Lee nos lembra que a liberdade é mesmo uma luta constante.
Contudo, o filme segue sem a pretensão de nos indicar soluções de como agirmos
na chamada vida real. Apenas nos convida a escolher com qual fio da história
queremos tecer nossa teia de memórias. O cinema não seria uma forma de vermos o
mundo, mas de revermos as coisas do mundo a partir de outras perspectivas. Não
para mudar o mundo, mas para mudar a ideia de como a vida pode ser vivida. Assim,
um filme não atua diretamente para mudar a história, mas sim pode nos localizar
enquanto agentes históricos, afinal a história quem faz somos nós, a partir de
nossas escolhas, nossos hábitos e relações sociais. Enfim, o que é privado e
individual não se restringe à nossa vida íntima e as experiências se tornam
públicas e coletivas a partir de nossas ações e trocas efetuadas no cotidiano. O
filme pode continuar a acontecer também quando as luzes da sala se acendem e a
tela luminosa se apaga.</span><span style="text-indent: 35.4pt;"> </span></span></div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7867127255826467350.post-18188452565851370232012-09-29T13:17:00.003-07:002020-06-06T14:19:46.734-07:00Cães de Aluguel - Quentin Tarantino<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #444444;"><br /></span></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #444444;"><span style="color: #444444; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Cães
de Aluguel é um filme de Quentin Tarantino. Quem? Aquele cujos filmes são um
banho de sangue grotesco e tosco. Chegam a ser cômicos e até infantis de tão
surreais. Podemos falar em anedota. O próprio Tarantino recorre a anedotas diversas
vezes em seus diálogos. Além disso, seus filmes têm sempre ótimas trilhas
musicais. Podemos, grosso modo, deixar-lhe no Lado B dos enredos policiais, ao
lado principalmente de Robert Rodriguez<a href="file:///C:/Users/Fam%C3%ADlia%20Muso/BARBARA/Blog%20Babi/C%C3%A3es%20de%20Aluguel.docx#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt;">[1]</span></span></span></a>.
Em termos da trama, nada deixa a desejar aos filmes de Martin Scorsese, Brian de
Palma ou Francis Ford Coppola. Somemos a isso inúmeras referências da cultura
pop estadunidense. E insisto: a ótima escolha musical que Tarantino usa em seus
filmes. E no que decorre esta mistura toda?</span><span style="color: #444444; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Cães
de Aluguel é o filme de estreia deste cineasta, logo no início da década de 90.
Este é um momento para o cinema em que as mudanças propostas nas décadas de 50
a 70 já se consolidam e a efervescência por rupturas de padrão já está
arrefecida. Há um consenso entre espectadores e cineastas de que o cinema é
ilusão. O que se busca são roteiros inovadores, originais e, principalmente, lucrativos.
Na época o cinema norte-americano já vivia o momento dos blockbusters. É neste
cenário que Tarantino realiza este filme de baixíssimo orçamento, o que o
coloca no hall dos filmes independentes de sucesso. Ainda que indepente, teve
uma boa margem de lucro e chegou a ir ao Festival de Sundance. Com efeito, o
grande mérito do filme reside justamente na forma como foi elaborada a
montagem. O roteiro é bem simples e comum a filmes policiais. Um grupo de seis ladrões
rouba uma joalheria e as coisas não saem como planejado. Eis que dois deles
começam a pensar na hipótese de uma traição. Alguém avisou à polícia que eles
estariam lá? Num galpão abandonado – o ponto de encontro – é onde se passa a
maior parte do filme. Com efeito, o que faz a diferença é justamente a narrativa
não-linear da qual Tarantino faz uso e abuso . Não seguir a ordem natural dos
fatos se torna então uma das marcas registradas do cineasta, o que viria a se
consagrar com Pulp Fiction, seu filme seguinte. E isso é a única coisa que
prende ao filme.</span><span style="color: #444444; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Trata-se
de um filme fácil de assistir. Os diálogos são acelerados e dinâmicos e
repletos de referências à cultura pop. Muitos acusam Tarantino de copiar cenas
de outros filmes embora ele diga que se tratam de homenagens. Homenagem ou
cópia, Tarantino é claramente um cineasta da geração do excesso de informações.
O que o diretor faz com toda essa informação? Captura por meio da câmera. Desde
a primeira cena – uma criativa discussão sobre a música “Like a Virgin” de
Madonna – que as citações e referências recheiam os diálogos nervosos e cheios
de palavrões. Entretanto ele não elabora
acerca dos homens, nem da sociedade, nem da violência. Talvez apenas elabore
acerca de gorjetas. Ele apenas joga elementos de filmes, musicas e até
quadrinhos livremente na tela. È um cineasta que prevê espectadores bem
informados. Mas só. Parece apenas consumir a cultura, como quem devora um
suculento sanduíche de redes de fast food. Não discute, não reflete. Só jorra
sangue. A cena inicial é a mais consistente do filme. De resto, fica preso no
vazio.</span><span style="color: #444444; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Dizem
que os seres moralmente fracos apelam para a violência<a href="file:///C:/Users/Fam%C3%ADlia%20Muso/BARBARA/Blog%20Babi/C%C3%A3es%20de%20Aluguel.docx#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt;">[2]</span></span></span></a>.
Mesmo a pequena produção que foge da uniformização dos processos
cinematográficos, pode se perder. Na cinematografia de Tarantino sobra
imaginação para ele e falta ao espectador. Tudo é muito explícito e de alguma
forma já está pronto. Não há o que refletir, pensar, imaginar. Apenas receber
os estímulos visuais e sonoros que vem da tela praticamente prontos. Um bom
exemplo de um filme que contém cenas de violência apenas implicitamente é o
L’argent, de Robert Bresson. Na bela sequência em que o jovem injustiçado mata
a família de sua amiga à machadadas, não vemos nada, apenas pés, portas entre
abertas e o latido do cachorro sugerem os assassinatos. Cinema é busca e
principalmente imaginação. O espectador
também deve ter este direito – o de imaginar – e não só o Diretor. Se não
fossem as elipses temporais o filme seria um mero espetáculo de violência
gratuita. O que prende e cativa é justamente a forma como os enredos são
montados. Enquanto um contador de historias, Tarantino merece mérito pela forma
como escolhe para enquadrar e direcionar sua história. Não é só a narrativa
não-linear que cativa o espectador. A forma como enquadra é o que vale à pena. Mescla
movimentos de câmera com câmera parada. Uma linda cena é uma em que o Mr.
Orange – em sua casa – tenta decorar uma história fictícia para ser verossímil
em sua atividade como infiltrado na gangue. Enquanto a câmera está fixa, o
personagem entra e sai de quadro. Falando em voz alta, quando sai de quadro
fica apenas sua voz (e dois pôsteres de comic books). Será que Tarantino se
inspirou em Ozu para tal cena? Outro mérito é o fato de que o diretor usa
sabiamente o a artifício de plano e contra-plano em apenas alguns diálogos, e
ainda assim o faz explorando a profundidade de campo e outros elementos
cênicos; assim consegue usar o artifício tão usado e desgastado em diálogos, sem
que este se perca na monotonia de imagens previamente determinadas pelo Diretor,
que direciona e manipula o olhar do espectador e acaba por não permitir uma
interação com o quadro em campo. Além disso, usa bastante Steadicam, dando
movimento e continuidade aos planos. </span><span style="color: #444444; font-size: 12pt; line-height: 150%;"> Não podemos deixar de falar dos atores. Todos
estão incrivelmente entregues à interpretação. Na cena em que tortura o
policial refém, Mr. Blonde (embalado pela clássica “Stuck in the Middle” do
Stealers Wheel) Michael Madsen chega a contagiar. Fora isso, o filme se enquadra em um mero
espetáculo. Puro entretenimento vazio e superficial, apesar dos belos
direcionamentos de ritmo e enquadramento. O final é um clássico de sua
cinematografia; um mata o outro, quase todos morrem. É um filme quem diverte a
quem não tem estômago fraco. Melhor alugar Bastardos Inglórios, filme em que
Tarantino faz uma linda homenagem ao Cinema e ainda por cima muda os rumos da
história – como muitos de nós já imaginaram – e mata Hitler. Ou então ouvir
Madonna, a rainha do pop, diversão garantida!</span></span></span></div>
<br />
<hr size="1" style="text-align: justify;" width="33%" />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #444444;"><a href="file:///C:/Users/Fam%C3%ADlia%20Muso/BARBARA/Blog%20Babi/C%C3%A3es%20de%20Aluguel.docx#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Robert Rodriguez é um cineasta norte-americano que realiza filmes de baixo
orçamento, mas com muito esguicho de sangue também.</span><span style="color: #444444;"><a href="file:///C:/Users/Fam%C3%ADlia%20Muso/BARBARA/Blog%20Babi/C%C3%A3es%20de%20Aluguel.docx#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Neste espaço não pretendemos julgar o caráter de Tarantino, apenas lançar
alguma luz acerca de seu filme.</span></span></div>
<div>
<!--[endif]-->
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7867127255826467350.post-57462352528996025032012-09-29T13:16:00.002-07:002020-06-06T14:21:42.432-07:008 1/2 - Frederico Fellini<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Metacinema.
MetaFellini. Falar de 8 ½ é falar de cinema,
mas é também falar de Fellini. Inclusive é sabido que este filme é uma
espécie de autobiografia. De fato o Cinema não é citado por Fellini apenas
neste filme. E nem Fellini é citado por ele mesmo pela primeira vez. Entretanto
o caráter autorreferencial que perpassa toda a obra de Fellini é parte de seu
dom: escrever textos por imagens. Seus filmes então se tornam imagens do
pensamento. Eisenstein já dizia, na década de 20, que a “a essência do Cinema
não está nas imagens, mas no texto visual que construímos com elas”. E Fellini
encontra estes elementos que irá incorporar aos seus textos/filmes, no
cotiadiano.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Com efeito, este filme em particular, carrega uma
autorreferência muito grande. Marcelo Mastroiani aparece como seu alter ego. Inclusive
usa os mesmos óculos e chapéu que Frederico. O que não quer dizer que seja uma
cópia. Talvez isso fique bem claro quando Fellini assume seu apreço pela
ilusão, pela fantasia. Se distancia de qualquer naturalismo. Fernando Pessoa
que nos diz: “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente, que chega a
fingir que é dor, a dor que deveras sente”. Assim se faz um Cinema ligeiramente
platônico, quando o sensível copia o inteligível, nos levando à imitação.
Contudo, faltou e Platão a poesia. O que não faltou à Fellini. O filme é a
verdade e a mentira.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Em 8 ½ acompanhamos a trajetória de Guido, um diretor de
cinema famoso, porém em um período de crise criativa. Não consegue começar o
processo de filmagem, ao passo que vai piorando conforme a pressão do produtor.
No final do filme Guido lamenta seu fracasso no momento e desabafa que somente
queria fazer um filme honesto, sem mentiras. <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Fellini é de um momento do Cinema (bem como da sociedade
em geral) em que cineastas buscam romper com a padronização do cinema à La
Hollywood. É inegável que a possibilidade de se narrar histórias por meio de um
dispositivo (a câmera cinematográfica) é genial. Scorcese (que fora amigo e
admirador de Fellini) diz, em uma entrevista a um programa televisivo
norte-americano, “que apesar da grande contribuição de D.W. Griffith para o
vocabulário do cinema, temos pessoas que levam o vocabulário à um outro nível”.
Fellini faz uma nova combinação de elementos fílmicos. Mas de uma forma que só
ele o faz. Doravante, a cinematografia felliniana é associada à fantasia, à
ilusão, à alegoria. O espaço-tempo fílmico onírico em Fellini, busca algo para
além da realidade, no entanto nela mesma. Para Freud é justamente no sonho que
podemos transgredir. Acessar o sonho é burlar regras. O sonho (para a
psicanálise) é a manifestação do inconsciente. Que recalca e esconde os
verdadeiros desejos do indivíduo. O inconsciente é justamente onde está o real.
Ao passo que imaginário é o mundo que nos cerca – quando acordados. Contudo
devemos ressaltar que mesmo que assuma um caráter alegórico em suas obras,
Fellini o faz a partir de regras. Tanto que o autor/diretor não acredita em
liberdade poética total. Assim o criador tenderia ao nada, ao vazio. Entende o
artista como um transgressor. E para transgredir você precisa de regras.
Devaneios são vazios A essência deve sempre existir na composição do texto.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Ainda que o cineasta seja um mentiroso, para Fellini ele
é mais. O cineasta é um mágico. Há algo de verdadeiro e mentiroso. O mágico no
filme é também telepata. Faz a ponte entre a mente de Guido (o roteiro, a
lembrança) e o quadro (tela de projeção). Contudo, só quem sabe à que as
palavras na tela realmente se referem é Guido. Para os outros parece algo
desconexo. Para o espectador também, até que o autor nos revela a origem da
estranha expressão “ASA NISI MASA”. Uma lembrança da infância de Guido. O que
evidencia o caráter de que uma imagem transcende a prisão da mensagem. O
espectador ativo (lembremos de Brecht) cria sua própria relação com a imagem vivenciada.
O cinema partilha subjetividades. Assim como para o poeta mexicano Octavio Paz,
“a linguagem na poesia rompe a sua qualidade comunicativa”. Não apenas
representa a realidade. Assim temos no cinema de Fellini o grande mérito de uma
criação fílmica que não apresenta, não representa, mas transgride a imagem e
vai além.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> A tudo isso acrescentemos a forma como a câmera se move,
parecendo passear pelo quadro, deslizando. Em fotos de sets de Fellini, nunca
faltam trilhos para os travellings bailantes. A trilha musical que embala é
notável e clássica. Elaborada por Nino Rota, que é parceiro de Fellini também
em outros filmes. Rota compôs clássicos para o cinema não só Felliniano, mas
também outros cineastas. Para Scorcese, por exemplo, em “O Poderoso Chefão”.
Clássica trilha também. Enfim, os quadros compostos por todos estes elementos
faz de 8 ½ um filme imperdível, principalmente para os amantes da arte
cinematográfica. A única coisa que falta mesmo é Giulieta Masina (inesquecível
em “Julieta dos Espíritos”). Uma bela parceria com o cineasta dentro e fora das
telas. <o:p></o:p></span></div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7867127255826467350.post-36074766535325776752012-09-29T13:15:00.003-07:002020-06-07T05:12:40.171-07:00Fahrenheit 451 - Françoise Truffaut<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> 'E a primeira vez
que vemos um Truffaut em technicolor. 'E a única vez em que vemos um Truffaut em
inglês. Neste filme vemos um Truffaut, mais uma vez, adaptando um livro para um roteiro de cinema. O
adaptado livro inspira um filme homônimo: “Fahrenheit 451”. Foi escrito por Ray
Bradbury em 1953; este autor é bastante conhecido no mundo da ficção científica.
Chegou a ajudar e criar projeto para os parques da Disney nos EUA e na França.
Mas em sua lápide<a href="file:///C:/Users/Fam%C3%ADlia%20Muso/BARBARA/Blog%20Babi/FAHRENHEIT%20451.doc#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12.0pt;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a> pediu
que fosse marcado “Autor de Fahrenheit” – dizem por aí. Seria um pedido pra que
não esqueçamos os livros? Seria um saudosista? Ele leria o “Homem
Unidimensional” de – Herbert Marcuse – em um tablet? Acho que eu seria este
livro caso conseguisse fugir com um, como acontece no filme... Ou seria algum livro de poemas da Florbela
Espanca. Quem ao ver o filme não pensou em que livro se tornaria?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Com efeito, não devemos esquecer que
no ano em que foi escrito, a mídia estava em um clima de reconstrução. Afinal,
o clima de reestruturação pós-guerra delimita novos rumos ideológicos. Foi um
período historicamente marcado por diversos movimentos políticos de libertação
de regimes fascistas e ditatoriais. Condicionar o imaginário popular era uma
das diretrizes do “mass media”. Alto desenvolvimento tecnológico e uma industrialização
de tudo. A televisão se torna uma vitrine. Ao mesmo tempo em que se
disseminavam as divas do Cinema Norte-americano, por exemplo: Marilyn Monroe,
Liz Taylor, Audrey Hepburn, Ava Gardner, Grace Kelly e Rita Hayworth. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Já nos créditos iniciais o autor/
cineasta, Truffaut mostra sua filiação à Nouvelle Vague, bem como o fato de ser
um dos pioneiros a defender e pensar o cinema como obra de um autor<a href="file:///C:/Users/Fam%C3%ADlia%20Muso/BARBARA/Blog%20Babi/FAHRENHEIT%20451.doc#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-size: 12.0pt;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></a>.
Além de não usar cartelas escritas nos créditos iniciais, e sim uma voz off (quebrando
um pouco as referencias usuais); faz o que dizem que os cineastas fazem: pensa
por imagens. Simplesmente começar o filme com stills de antenas, é traduzir em
imagem parte do argumento do livro pelo seu autor do livro<a href="file:///C:/Users/Fam%C3%ADlia%20Muso/BARBARA/Blog%20Babi/FAHRENHEIT%20451.doc#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-size: 12.0pt;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></a>. Depois das antenas, os primeiros
enquadramentos do filme – acompanhar o carro dos bombeiros – parecem bastante
condizentes e previsíveis; mas logo na cena seguinte – no apartamento a ser
revistado pelos bombeiros – usa-se um zoom em etapas, fragmentado e misterioso.
Voltando à questão dos percursos nas imagens: por exemplo, pode-se perceber que
os enquadramentos escolhidos para os trajetos e percursos no filme são em linha
reta e por trilhas, o que nos remete à uma maneira cinematográfica de expressar
uma vida cerceada por um regime totalitarista. Mais uma vez pensando por
imagens.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Ao longo
do filme vemos o Truffaut da Nouvelle Vague, mas não o Truffaut de Godard. Isso
porque, ainda que Truffaut utilize artifícios de montagem, ritmo, enquadramentos
e estética, tal qual o fez na Nouvelle Vague, fica cada vez mais explanado o
distanciamento do seu cinema e o de Godard. Enquanto Godard experimenta e aponta
para o devir de uma imagem; Truffaut parte para ser um belo contador de
histórias. Mas sem muita ousadia. Utiliza a cartilha gramatical cinematográfica
brilhantemente, mas não ousa. Busca um cinema das sensações. A busca em criar
uma atmosfera de suspense é tanta que temos como músico do filme ninguém menos
do que o criador da trilha de Psicose (Bernard Hermann). Vale ressaltar que
Hitchcock era o ídolo de Truffaut. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Eis que
começa a história. Que é altamente atual. Naquela época, o totalitarismo era
mais revelado. Enquanto hoje em dia o totalitarismo é velado. Mas enfim, o
encontro com Clarisse já é tenso. Ela fala sem parar, e é professora.
Impossível ela não ler. Mas ela não confessa em nenhum momento ser uma leitora.
E o espectador só vai ter certeza mais tarde; embora já aguardasse tal
informação. Este encontro, na verdade já mexe com o bombeiro atiçador de fogo
Montag. Ela quer saber porque ele queima livros...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">CLARISSE<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Diga-me,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">porque queima livros?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">MONTAG<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O quê?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Bem, é um trabalho<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">como qualquer outro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">[...]<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">CLARISSE<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">- Então não gosta de livros?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">MONTAG</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">- Gosta da chuva?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">CLARISSE<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">- Sim, adoro-a.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">MONTAG<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Os livros apenas são... lixo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Não têm interesse nenhum.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">CLARISSE<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Então, porque é que ainda há<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pessoas que os lêem sendo tão perigoso?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">MONTAG<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Precisamente porque é proibido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">CLARISSE<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Porque é que é proibido?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">MONTAG<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Porque faz as pessoas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ficarem descontentes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">CLARISSE<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Acredita nisso, realmente?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">MONTAG<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Oh, sim. Os livros<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">alteram as pessoas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Tornam-nas anti-sociais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">CLARISSE<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Acha que eu<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sou anti-social?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">MONTAG<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Porque pergunta?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">CLARISSE<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Bem... sou professora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Este diálogo é incrível e, no final das contas
nos leva a perceber que o mesmo motivo que faz com que os livros sejam
condenados, é o que faz Montag tomar gosto pela leitura. O papel da cultura
para Jose Martí é permitir que sejamos livres. ‘Um pueblo de hombres educados
será siempre um pueblo de hombres libres.” Neste lugar fictício até os
quadrinhos são sem palavras. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Não demora muito pra que o quase promovido
bombeiro passe a se interessar por palavras. È inevitável – como espectador –
não tentar ler todos os títulos dos livros com destino às cinzas. E agora também
dos que Montag elege para leitura. O primeiro é David Copperfield de Charles
Dickens. “Capítulo Um. Eu Nasci. Entre ser eu
o herói da minha própria vida, ou essa posição ser ocupada por outra pessoa,
estas páginas o irão mostrar." Conforme ele lê o espectador se torna o
próprio Montag. E o próprio Montag leitor vira David Copperfield... A câmera
cada vez aproxima do livro. È eficiente a forma com que Truffaut busca envolver
o espectador com sua história. Assim como o leitor se torna o livro...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Um povo
sem escrita é um povo sem memória. E um dos símbolos da memória é a biblioteca.
O escritor argentino Jorge Luis Borges cita em um seminário a Biblioteca de
Alexandria como “memória da humanidade”. De fato, não podia deixar de ter uma
biblioteca no filme. E é na casa da professora Clarisse. A discussão que se
trava entre Montag e o General do quartel é ótima. O General já discursa contra
os livros: “Livros não dizem nada”. Mas vemos um exemplar de “Madame Bovary”. O
chefe dos bombeiros ainda critica a filosofia e diz que esta é pior do que os
romances, pois filósofos julgam saber mais. Compara a filosofia à efemeridade
da moda. Somente haverá felicidade caso todos em uma sociedade forem iguais,
diz o general. Dentre todos os livros que devem ser queimados, claro não podia
deixar de ter “Mein Kampf” como menção aos regimes ditatoriais. Pró-liberdade,
temos “Joana D’arc”. O livro aparece mais de uma vez na fogueira de letrinhas
na casa da professora. A senhora morre “na fogueira”, à semelhança das mulheres
consideradas bruxas durante a inquisição, e de Joana D’Arc. Não menos curioso é
o fato de notarmos um exemplar da Carriere du Cinema em meio às chamas. Irmãos
Karamazov e Lolita também viram cinzas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> É até
previsível que a mulher de Montag o tenha denunciado. Ainda mais depois que
Montag fez uma amiga dela chorar em sua casa ao ler um livro. A mulher é a
parte dos cidadãos amansados pelos ecrãs (televisões). Viciada em pílulas ora
estimulantes, ora calmantes, a esposa de Montag representa o oposto de
Clarisse. A apatia e aceitação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Mas o grande momento pra mim se dá quando o
ex-bombeiro quase promovido que atiçava fogo nos (subversivos) livros, revela
qual sua nova identidade: “Tales Of Mistery And Imagination” de Edgar Allen
Poe. Existe a expressão “decorei o texto de “cór” (coeur)”. Quer dizer <u>de
coração</u>; “couer” é coração em francês. O fogo é enfim libertador...<o:p></o:p></span></div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<!--[if !supportFootnotes]--><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br clear="all" /></span></div>
<hr size="1" style="text-align: left;" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><a href="file:///C:/Users/Fam%C3%ADlia%20Muso/BARBARA/Blog%20Babi/FAHRENHEIT%20451.doc#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10.0pt;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a> Faleceu
neste ano, de 2012. Em 6 de junho.</span></div>
</div>
</div>
<div id="ftn2">
<div class="MsoFootnoteText">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><a href="file:///C:/Users/Fam%C3%ADlia%20Muso/BARBARA/Blog%20Babi/FAHRENHEIT%20451.doc#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10.0pt;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></a> Cinema
de autor foi uma teoria defendida pelos integrantes da nouvelle vague, cuja
figura do Diretor comanda todas as áreas, de modo a deixar uma marca própria em
cada filme.</span></div>
</div>
</div>
<div id="ftn3">
<div class="MsoFootnoteText">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><a href="file:///C:/Users/Fam%C3%ADlia%20Muso/BARBARA/Blog%20Babi/FAHRENHEIT%20451.doc#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10.0pt;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></a> Ray
Bradbury declarou certa vez que seu livro pretende alertar para a diminuição de
leitores em detrimento de telespectadores.</span></div>
</div>
</div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7867127255826467350.post-45617719220787167962012-09-29T13:14:00.000-07:002020-06-06T14:25:10.031-07:00Roma Cidade Aberta - Roberto Rosselini<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Se Roma Cidade Aberta é um daqueles filmes ícones? Tão ícones que contém
em si diversos quadros ícones? (Tal qual a cena do fuzilamento de Pina)... Este
filme parece mais do que apenas um ícone: trata-se de um filme histórico. Marx
uma vez disse que os homens “fazem história embora não saibam que a fazem”.
Pois bem, não estamos falando em alienação, mas em uma despretensão do diretor
Roberto Rosselini em realizar um marco histórico no cinema. Fazia história e
não sabia que o fazia. Ainda no início do filme, uma cartela já nos indica o
que seria um dos momentos mais importantes da história do cinema. Diz ao
espectador que a trama é baseada nos nove meses de ocupação nazista na Itália.
Para tal, ocorrerão “coincidências” com a realidade. Eis que, este estilo de
fazer cinema na Itália do pós-guerra, será conhecido como “Neorealismo Italiano”.
Sabe-se que Roberto Rosselini diz – sobre Roma Cidade Aberta – que gostaria de
seguir um método documental, ainda que seja um filme de ficção. Isto porque se
trata de uma história pela qual o próprio Rosselini passou: fugir das patrulhas
nazi-fascistas na Itália. Rosselini também fazia filmagens para a Resistência
Italiana.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Entender a importância deste filme requer que voltemos um pouco na
história. Comecemos pelo título que já nos diz do que se trata: Roma no período
em que foi denominada como “Cidade Aberta”, o que em períodos de guerra quer
dizer que Roma seria uma cidade proibida de se bombardear. No entanto estava em
ruínas após cerca de três décadas de guerra mundial. 1945: este foi o ano da
morte de Mussolini, de Hitler e do fatídico ataque nuclear a Hiroshima e
Nagasaqui. A Europa vivia um momento de busca pela libertação dos regimes
opressores nazi-fascistas. Ainda em guerra – mas na condição de “cidade aberta”
– uma Roma destroçada será, literalmente, o palco para as dramatizações à La Rosselini.
Talvez Rosselini seja o mais dramático dos italianos neorealistas. Uma das
propostas do Neorealismo era sobriedade nas atuações, para assim dar-lhes o
mesmo peso dos fatos; e não sobrebujar um ao outro. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Transformar a realidade em história. Um filme com este roteiro hoje em
dia é até corriqueiro e pouco inventivo, mas na ida década de 40, auge do
combate a sistemas fascistas de governo – este especialmente que fora filmado ainda
durante a guerra! – fazem com que Roma Cidade Aberta seja um expoente fílmico
da década (ou das décadas). Juntamente temos dois filmes que, com este, compõem
a chamada trilogia da guerra de Rosselini; são eles: Paisá (1946) e Alemanha
Ano Zero (1948). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas enfim, Rosselini escreve (que também tem, entre outros, Fellini como
parceiro) um enredo bastante dramático ao mesmo tempo em que diz tentar “capturar
a realidade”. Filma nas ruas. Mais especificamente em um prédio bombardeado, em
ruínas. Filmar em locações reais, com a cenografia já pronta é além de tudo a
única opção quando não se tem estúdios. Como é o caso, nesta Roma destruída. A
única atriz (de teatro) é Anna Magnani (futura mulher de Rosselini), todos os
outros personagens são vivificados por não atores. É cortante ver aquela mulher
(Pina) ser morta, grávida, na frente de seu filho, que corre para abraçar o
corpo que jaz estendido no chão. Cena
ícone. Assim aos poucos, Rosselini vai costurando o que iremos chamar de
“Neorealismo Italiano”. Andre Bazin define o neorealismo italiano como sendo
uma perfeita união entre realidade e ilusão no cinema. Conferindo à imagem a
possibilidade de falar por si. Trata-se de parecer-se com ela mesma. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Talvez melhor do que usar a expressão “captura da realidade”, podemos dizer
melhor sobre este filme que “expressa com autenticidade” o momento da Itália no
pós-guerra. Não se trata de um duplo da realidade, mas uma expressão do que
acontecia. Apresenta representando. Representa apresentando. Ao mesmo tempo em
que mimetisa a realidade, discursa. È um filme em que se discute política. Um
cinema de Rosselini cheio de ideologia. Por diversas passagens vemos a luta da classe
trabalhadora. Vemos no padre, ideais depois preconizados pelos Teólogos da
Libertação, nas décadas seguintes, por padres da America Latina. Na escada do
prédio, Pina tem uma conversa com Francesco em que ela desabafa seu cansaço
perante a guerra. Francesco se remete à Primavera. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Com todo este cunho político, ainda resta para o final. O oficial da SS
discursa que os italianos “tem a doença da retórica”. Em seguida fuzilam o
padre. As criancinhas assistem do lado de fora. O fim da inocência ou o nascimento
da esperança? Talvez a utopia de uma criança possa ser a ideologia de um
indivíduo social e coletivo amanhã. Afinal, é lindo e fúnebre quando eles
assobiam para o padre no momento do fogo! </span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7867127255826467350.post-52245307099731236382010-03-30T16:42:00.000-07:002020-06-07T05:29:30.088-07:00O Anticristo (Lars Von Trier) - Notas sobre como a violência atinge o corpo da mulher <h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O Anticristo - Lars Von Trier</span></i></h3>
<div>
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="color: #5f5f5f; font-size: 11pt;"></span><span class="Apple-style-span"> Como o próprio Lars Von Trier fala acerca da elaboração de “Anticristo”; não há explicação concreta sobre o que o autor pretende expressar com esta obra. Trier assina a direçao e o roteiro do longa. Como toda a obra de arte, não pode ser ser interpretada sem estar de acordo com a perspectiva do leitor/espectador. Posto que compartilho da mesma concepção da arte, parto em direção a uma reflexão acerca do tema que ficou – aos meus sentidos – evidente em “Anticristo”: O que é para a mulher ser uma mulher? Lembrando que vivemos em tempos que o não-binarismo é indispensável para entendermos a diversidade. Com isso,o substantivo mulher ganha outros contornos em relação ao histórico que sempre deu o sentido ao adjetivo mulher.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> No presente texto vamos nos ater apenas à mulher da sociedade patriarcal Ocidental. A mulher foi historicamente reclusa à condição de dona-de-casa, mãe e esposa dedicada; propriedade privada como nos diz Engels em seu livro “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”. A mulher contemporânea já tem a possibilidade de quebrar as paredes do lar e trabalhar na rua. Começa então uma competição desenfreada para então se igualar aos homens e até mesmo ocupar o seu lugar. No lugar de esposa entra uma mulher que se diz bem resolvida sexualmente ao negar qualquer tipo de relacionamento que possa envolver algo menos fugaz e volátil; em tempos hiper-modernos ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo. Afinal, nada mais arrebatador e humilhante do que o amor. Ninguém quer sair perdendo hoje em dia. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Pois bem, passados quase quarenta e dois anos da (quase) queima de sutiãs em praça pública em protesto à condição de mulher homogênea dos anos 60, as mulheres não estão nem em um extremo nem <st1:personname productid="em outro. Se" st="on">em outro. Se</st1:personname> encontram em um limbo perdidas. Limbo este onde sempre estiveram. Afinal a questão da libertação da mulher não está no social e sim no privado. No oculto, no particular, nas nossas casas. Está no que há de obscuro no desejo feminino. E é isto que podemos pensar e trabalhar em “Anticristo”. O filme é polêmico e suscita reações diversas, mas em sua maioria asco. Lars Von Trier está sempre tentando provocar. E em suas obras não deixa de nos colocar frente à frente com o ser humano que, na verdade, muitos preferem esquecer que existe. O que se torna um tabu é mostrar o ser humano violento como sabemos que ele pode ser – e o é. Ou em Dogville não é chocante saber que aquela frágil jovem que fugia de seu pai tirânico irá servir de escrava sexual para os homens daquele vilarejo que parecia ser tão acolhedor? Em "Anticristo" o público se constrange não só com as cenas de sexo em plano detalhe, mas principalmente com as cenas de violência. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> "Anticristo" nos narra a história de um casal que perde o filho pequeno de forma trágica. A mulher – que é muito bem construída por Charlotte Gainsbourg – cai então em forte depressão. Seu marido – com a eterna cara de mau de Willem Dafoe – é terapeuta. Passa a ajudá-la a superar a crise como se fosse um de seus pacientes. Propõe que eles fiquem um tempo em Éden, uma casa em meio à uma densa e isolada floresta que para ela representa medo. E para ele, a mulher tem que estar frente ao medo e encará-lo para se curar. Contudo apesar de o filme começar por esta via – a morte do filho – ao longo da trajetória da narrativa isto vai se tornando mais um efeito do que uma causa da loucura da personagem. Começamos a pensar então a questão desta mulher. Como fora dito acima, a mulher ainda é uma incógnita. Na psicanálise contemporânea, as condições do corpo feminino e do inconsciente da mulher devem pertencer a ela; contudo as ferramentas para tal parecem distantes do alcance. No final do século XIX, Freud morreu ainda tentando delimitar mais claramente a identidade e expressão da feminilidade - alguns dizem que ele dava pouca importância à questão da mulher. Para Lacan (sempre relendo em Freud) a Mulher não existe. A psicanálise reconhece esse lugar como um mistério. De forma falocêntrica, importante ressaltar. Resumindo: ao perceber (por volta dos 4 ou 5 anos) que a vagina parece ser a ausência do pênis, passa a configurar para a menina a fantasia da castração. Para o homem há um objeto que o delimite claramente (o pênis, objeto de inveja e submissão da mulher), mas para a mulher o que irá representá-la? Não disse acima que a psicanálise soa falocêntrica ao centralizar a condição da falta no pênis. E o que é pior: ao transpormos para outra forma de dizer, soa como se o homem recebesse reconhecimento, mas e a mulher - sem nenhum reconhecimento - tão vazia? Neste caso podemos dizer que é perceptível que a interpretação da psicanálise é uma forma de ver inserida no contexto do patriarcado. De vazio, todas as vidas estão cheias. Mas, seguindo com o raciocínio da psicanálise, o que a criança - independentemente da expressão do gênero que tenha - procura é isso: reconhecimento e identidade. A mulher, em tempos de patriarcado também procura, mas não encontra. Um vestido, um peito, uma bunda, um cílio, um cabelo, uma unha, o silêncio, entre outras coisas. Tudo o que as feministas da década de 60 lutavam contra. Enfim, uma característica que no final das contas a faça ser desejante, potente e única. Nós feministas sabemos que não vale nada um diploma ou um cargo de liderança sem que sejamos e estejamos juntas na luta contra códigos que nos impedem de exercer nossa liberdade. Cílios não são inúteis, mas a luta afirmativa é árdua e devemos ter em mãos ferramentas múltiplas. Estratégias de luta, organização, metodologias e projetos de sociedade caem bem. Com efeito, este não é um processo de fora pra dentro, é de dentro pra fora que uma mulher se faz uma mulher. Tornar-se mulher é um processo constante, cuja centralidade passa pelo poder de se expressar, escolher e existir que deve ser exercida pela mulher, dona de sua subjetividade,de seu prazer, de sua construção do espaço social e de sua vida particular.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“A mulher é a rainha do mundo e a escrava de um desejo”, já nos dizia Honoré de Balzac que, apesar de suas tirânicas idéias políticas, compreendeu bem a dor de ser mulher de viver em vias de desparecer. E aí está nossa personagem e sua dor. A de ser, existir. Desejo no sentido psicanalítico consiste em fazer uma busca por quem somos. Alguns têm dito por aí que é uma busca constante. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">É sempre um desencontro. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Desejo é então movimento, criatividade e vida ao ter que explorar o vazio do desencontro na busca pelo o que perdeu. O marido vivido por Dafoe estava sempre mais preocupado com o trabalho e sua participação na vida familiar era nula. Sua esposa somente consegue a atenção dele após a morte do filho. Ele passa a tratá-la como a um de seus pacientes. Ela, perdida sempre em busca de algum encontro com o marido. Acreditava que o tinha no sexo e por isso sua relação com o ato se mostra quase patológica como percebemos ao longo do filme. Mais uma vez, impedida de desejar. Com o passar do tempo sua perda de lucidez começa a se intensificar à medida que o marido vai descobrindo coisas sobre ela e se distanciando. Ela então se entrega ao que há de mais obscuro e irracional. Expressando esta situação ela vai às vias de fato e corta o falo dele. Sempre oscilando entre o amor e ódio. A mulher presa na impossibilidade de desejar enlouquece e ataca o que mais a fragiliza. O caos reina. Tudo isso com uma plasticidade primorosa e uma direção de fotografia excepcional (desde a cena inicial do filme) de Antony Dod Mantle. Que pena que teve que sair assim. Porque a mulher precisa sempre agir assim para se libertar? Isso não deixa de ser uma visão que é impregnada de machismo e misoginia. A violência como narrativa é comum no contexto do patriarcado. Se a mulher é um mistério para psicanalistas tão abrangentes em seus estudos, como Freud e Lacan, talvez seja porque não é possível um homem saber o que faz uma mulher ser uma mulher. Só ela mesma pode fazer isso por ela. E não é pirando ou se tornando uma assassina. A nossa subversão é por respeito e dignidade, equidade de direitos e liberdade de escolha. O que historicamente por diversas vezes foi, e ainda é negado. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Na história do cinema diversos foram os filmes que buscaram retratar a mulher e sua dor <st1:personname productid="em s↑-la. Um" st="on">em sê-la. Um</st1:personname> filme que podemos lembrar pela tristeza de sua personagem principal é “ A História de Adele H.” – do não menos genial e controverso – já falecido Truffaut. O filme conta como a filha de Victor Hugo enlouquece de amor enquanto persegue o objeto de sua obsessão: um oficial inglês que não corresponde aos seu sentimentos. Podemos também citar a ópera “Carmen” de Bizet. Neste caso a mulher figurada sob a máscara da <i>femme fatalle</i>. Aquela que desdenha os homens. Seduz e depois larga. Trata-se então de uma pseudo emancipação desta condição de ser e desejar. Pois apesar de aparentemente não aceitar se submeter aos mandos dos homens, está aprisionada ao desejo. Com efeito, “Anticristo” nos mostrou este lado da mulher, do jeito que o homem vê! Não é à toa que no filme circunda o tema da bruxaria. Quem sabe então bruxas eram, além daquelas que sabiam a ciência das ervas e se colocavam antagônicas ao poder absoluto da Igreja, também as mulheres sofridas que não sabiam lidar com a sua condição feminina, e estavam em busca de se tornarem as mulheres que queriam ser. "Ninguém nasce mulher, torna-se mulher", já dizia Simone de Beauvoir.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Fica a questão no ar e um vazio depois de assistir o filme. Parabéns àqueles homens que conseguiram compreender um pouco a mulher, se tornam companheiros delas nessa difícil jornada de ser que se quer ser e como se quer existir. Parabéns principalmente às mulheres que conseguem perceber que se emancipar não é se tornar a diretora geral de uma multinacional e sim se libertar desta eterna busca por ser aceita por uma sociedade que delimita ainda padrões de comportamento, quando nós deveríamos ter plena possibilidade de escolha frente aos nossos desejos, prazeres e demandas básicas no que concerne ao processo de se tronar mulher. Mulher não, mulheres. São muitas e diversas. Cada vez menos dispersas. Que todas possam acessar a verdade de seu desejo e acessar suas ferramentas de sistematização da liberdade.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com2